Diderot propõe interpretação …

Diderot propõe interpretação da natureza em novo livro da Editora Unesp

7.png

"Interpretar a natureza – essa ideia incomum já não pressupõe que isto a que se chama 'natureza' se presta a algo como uma 'interpretação'? Mas, então, seria a natureza um código, uma cifra, um texto? Ou, por que não, até um livro? Quanto àquele que se põe a interpretá-la, não se contenta em observar, ouvir, ler, enfim, sentir; quer mais, desvendá-la por trás dessa aparência com a qual ela se exibe. Ou, como prefere Diderot, com a qual ela se traveste. A natureza como travesti de si mesma. Teria ela um gênero? Diderot a personifica no feminino.” Estas palavras do filósofo e organizador da versão brasileira do livro, Pedro Paulo Pimenta condensam o espírito de “Da interpretação da natureza”, instigante obra de Denis Diderot, lançamento da Editora Unesp. Pimenta é o organizador e um dos tradutores do livro, ao lado de Maria das Graças de Souza, Maurício de Carvalho Ramos e Clara Castro.

Este pequeno escrito de Diderot, anotam na apresentação Clara Castro e Pedro Paulo Pimenta, “é um programa no qual se delineiam, em linhas gerais, as condições para a realização de uma tarefa peculiar: interpretar a natureza. Conhecê-la, por certo, mas de uma maneira talvez inusitada, adivinhando o seu jeito de ser em meio às limitações dos nossos sentidos e do nosso entendimento. Essas personificações – 'a natureza', 'o nosso entendimento' – são todas propositais, e Diderot as propõe em contraposição à tendência metafísica de tomar esses nomes por designações de entidades reais. De saída, portanto, seu pequeno opúsculo, publicado parcialmente em 1753 e integralmente no ano seguinte, oferece uma espécie de antídoto aos preconceitos embutidos no uso mais corriqueiro da linguagem."

"É uma dama que adora se travestir, e cujos diferentes disfarces revelam ora uma parte, ora outra, dando esperança aos seus admiradores mais assíduos de que, um dia, sua pessoa se revele por inteiro." É assim que Denis Diderot se refere à natureza no texto que estrutura este volume, no qual o filósofo se lança à desafiadora empreitada de conhecer um pouco essa "dama", que está em constante mutação, sem se deixar enganar pelas limitações de nossos sentidos e entendimentos.

Compartilhe esta Publicação: