Editora UFRJ lança cartas de Hélio Oiticica

O artista plástico Hélio Oiticica (1937 – 1980) rompeu com a tradição contemplativa em arte em prol de proposições que afetam comportamentos, com uma dimensão ética, social e política conectada com questões sociais do seu tempo. É esse artista multifacetado e ousado, considerado um dos maiores da história da arte brasileira, que a Editora UFRJ apresenta em “Hélio Oiticica: cartas 1962-1970”, livro idealizado por Cesar Oiticica Filho e organizado por Tania Rivera.
A publicação com a seleção de parte das cartas de Hélio Oiticica traz o contexto de uma época, seus bastidores e a essência das criações do artista. As cartas também podem ser lidas como literatura ou como crônica e nos mostram a vida, os planos e o modo como Oiticica conseguiu criar uma rede de amigos e colaboradores, incentivados por ele a criar e a se tornar parceiros, numa espécie de processo coletivo de criação.
Nas cartas a seus amigos e interlocutores – Lygia Pape, Lygia Clark, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Amilcar de Castro, Ivan Cardoso, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros artistas e cineastas –, Hélio Oiticica os encoraja, buscando ajudá-los e defendendo sempre a importância de projetos em grupo.
Artista engajado, sobretudo em um momento em que a ditadura no Brasil se afirmava no poder, Hélio Oiticica fez questão de se posicionar. Em carta de 1969, que bem poderia ter sido escrita nos tempos atuais, a Jean Clay, historiador da arte, crítico e editor francês, ele escreve, “hoje, cada vez mais, as pessoas têm que definir suas posições políticas [...] Não podemos suportar posições ‘neutras’, pois quem quer que seja que cria tem um poder diretamente à mão […] não é mais hora de os artistas separarem uma coisa da outra. Simplesmente não é possível”.
Tania Rivera é ensaísta, psicanalista, curadora e professora titular da Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua também junto ao Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Cesar Oiticica Filho, sobrinho do artista, é diretor artístico do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e do Projeto Hélio Oiticica, instituto responsável pela conservação e divulgação do acervo, mantido na casa onde morou o artista, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.