Editora Unesp lança obra em que Roger Chartier trata de mapas ficcionais
Obras como “O Hobbit”, “As crônicas de Nárnia” e “O Senhor dos Anéis” familiarizaram o público moderno com a inclusão de mapas em livros de fantasia, guiando os leitores por terras imaginárias. No entanto, essa prática não é recente. Já nos primórdios da era moderna, entre os séculos XVI e XVIII, mapas começaram a ilustrar narrativas ficcionais, apesar dos desafios que isso representava. Afinal, a impressão de mapas encarecia a produção dos livros. Além disso, a capacidade das palavras de evocar imagens mentais parecia torná-los desnecessários. Para mergulhar nesse universo da cartografia ficcional, o historiador francês Roger Chartier traz a lume “Mapas e ficções”, lançamento da Editora Unesp.
Neste percurso escrito, a jornada começa com os mapas das aventuras de Dom Quixote e se estende até as edições venezianas de obras de Ariosto e Petrarca. Duas linhagens principais emergem: a inglesa, que retrata as viagens de aventureiros fictícios como se fossem reais, como em As viagens de Gulliver e Utopia; e a francesa, de caráter alegórico, que tem como marco o Mapa do reino de Ternura, da obra Clélia, de Mademoiselle de Scudéry, e seus sucessores, repletos de simbolismo e crítica social.
Ao longo da história, os mapas literários assumiram múltiplos papéis: representaram mundos invertidos, satíricos, utópicos ou distópicos; borraram as fronteiras entre a realidade e a ficção; alimentaram a razão e os sonhos, transcendendo as limitações do texto escrito. Ao explorar essas diversas obras clássicas, Roger Chartier oferece uma nova perspectiva sobre a mobilidade das ficções e suas interpretações, revelando como os mapas literários enriquecem a experiência do leitor e ampliam os horizontes da imaginação.