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Livro da Eduel trata de serviço social e dimensão investigativa na formação profissional

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O livro “Serviço Social e a Dimensão Investigativa na formação profissional” foi recém-lançado pela Eduel. A obra tem como tema central a dimensão investigativa no processo de formação profissional de assistentes sociais e é escrita por Luciane Francielli Zorzett iMaroneze e Sandra Lourenço de Andrade Fortuna.

O livro é resultado da tese de doutorado defendida em 2022 pela professora da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Luciane Francielli Zorzetti, junto ao Programa de Pós-graduação em Política Social e Serviço Social, do Departamento de Serviço Social da UEL. A tese foi orientada pela professora da UEL, Sandra Lourenço de Andrade. Segundo as autoras do livro, devido à relevância, originalidade e a atualidade do tema, houve a recomendação para que a tese fosse transformada em livro.

Os quatro capítulos trazem conteúdos fundamentais para estudantes de graduação e pós-graduação, profissionais, supervisores de campo e docentes, reforçando o debate da dimensão investigativa no centro da formação profissional. O foco reside no esforço de fortalecer e ampliar os espaços de interlocuções das unidades de ensino com a sociedade. E a partir do conteúdo empírico da pesquisa, buscou-se envolver docentes de seis universidades estaduais do Paraná.

Confira a entrevista concedida à Eduel.

Eduel - O que o leitor pode esperar do livro?

Luciane - Acredito que esta publicação oferece aos leitores a possibilidade de adensar as reflexões críticas que estão presentes no debate contemporâneo a respeito da dimensão investigativa na formação profissional. Longe de reduzir o estudo ao campo da formalidade, buscamos, a partir do conteúdo empírico da pesquisa, envolver os docentes de seis Universidades Estaduais do Paraná, ou seja, dar luz à fala de um dos sujeitos que constroem o projeto político-pedagógico nas condições objetivas e concretas das Universidades. Isso trouxe uma riqueza imensa para a pesquisa. Possibilitou identificar, além da importância da dimensão investigativa na formação profissional, e aqui cabe frisar “investigação entendida como resultante da práxis humana”, os elementos que tensionam a materialização da transversalidade desta dimensão nos componentes curriculares dos cursos de graduação em Serviço Social.

Eduel - Quais as principais contribuições que o livro traz aos profissionais da área de Serviço Social?

Luciane - As contribuições estão na apreensão da dimensão investigativa a partir da lógica dialética das Diretrizes Curriculares da ABEPSS, com sustentação teórico-metodológica aportada na Teoria Social de Marx. Entendemos que retomar a lógica das diretrizes que expressa o projeto de ruptura contribui para elucidarmos as concepções fragmentadas entre investigação, realidade e profissão, porque traz, para o centro, a investigação na articulação dos fundamentos do Serviço Social e isso incide nas estratégias favoráveis ao seu ensino. Essa lógica nos remete a aprendermos as contradições da realidade, entendermos o projeto hegemônico de educação superior do capital e não deixarmos nos sucumbir a ele, mas buscarmos meios de resistência na perspectiva de garantir a formação de um perfil intelectual,investigativo e crítico, tão caro ao nosso projeto ético-político. Outra contribuição está no fato de que as análises desenvolvidas neste estudo trazem as particularidades dos cursos de Serviço Social, identifica os aspectos mais centrais de sua configuração, os projetos políticos pedagógicos e quem são os docentes que colocam esses projetos em movimento. Nesse sentido, a pesquisa aponta duas contribuições centrais, não dissociadas: a apropriação da lógica das Diretrizes Curriculares da ABEPSS e as condições objetivas de trabalho nas universidades estaduais paranaenses – a precarização da formação e do trabalho docente que tensiona essa apropriação, impondo desafios à centralização da dimensão investigativa.

Eduel - Sem dúvida, o livro contribui para o debate sobre o serviço social e a formação profissional. Por que os temas são importantes atualmente?

Luciane - O tema é importante porque reforça a necessidade incontornável da apropriação da lógica dialética das diretrizes curriculares por parte dos sujeitos da formação profissional. Destaca a importância da apreensão da matriz curricular, não como soma das partes, mas como unidade do todo, o que exige a apreensão do método dialético, e assim a articulação dos conteúdos e oexercício da transversalidade da dimensão investigativa, como um esforço coletivo. Nesses tempos de mudanças aceleradas que se expressa, dentre outros aspectos, no crescimento contínuo do irracionalismo, no acirramento do obscurantismo, o que se observa é que desafios cada vez mais complexos são impostos ao futuro assistente social no sentido de apreender a realidade,reconhecer e fazer a defesa dos objetivos de seu trabalho profissional. Nessa direção, a apropriação da dimensão investigativa na lógica curricular é subsídio para a interpretação das tendências presentes na formação e esse movimento depende, sim, do compromisso assumido pelos sujeitos com o projeto deformação.

Eduel - Quais foram os principais desafios da pesquisa que agora virou livro?

Luciane - Penso que um dos desafios principais está na fragilidade teórica de apropriação da lógica curricular. Embora haja, por parte de alguns sujeitos da pesquisa, o entendimento de que se trata de uma lógica superada, observa-se que ainda permanece uma apropriação superficial, fragmentada, conduzida pela racionalidade da ciência moderna. Articulado a isso, não podemos jamais desconsiderar a “avalanche de coisas” que têm recaído sobre as universidades públicas. No Estado do Paraná, especialmente com a implantação da Lei Geral das Universidades (LGU), as condições objetivas de trabalho dos docentes,longe de favorecer às mediações curriculares para potencializar o exercício da dimensão investigativa, tem implicado no acirramento da precarização e intensificação do trabalho. A redução de recursos para custeio implica em menos pesquisa e extensão, menos recursos para compra de materiais e insumos básicos que são necessários para a manutenção da pesquisa,pagamento de bolsas de indicação científica, reposição e compra de novos livros para o acervo da biblioteca etc. Também implica em menos editais para que os docentes possam participar de eventos, publicar os resultados de suas pesquisas, organizar congressos, seminários e outras atividades acadêmicas que ajudam na produção e disseminação de conhecimentos na área. Essa conjuntura que expressa a precarização da formação e do trabalho docente impõe desafios que atravessam as estratégias de implementar a investigação enfatizando a sua transversalidade, porque implica em apreender a lógica curricular – os fundamentos do Serviço Social – e implementá-la diante desses desafios, assumindo-se compromissos e posicionamentos profissionais que,por serem plurais, dependem de se estabelecer um campo de articulações e negociações, mantendo-se a direção do projeto de formação.

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