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Nós xs índixs

Nós xs índixs

EDUNILA
SINOPSE

“Ser como o Che” era uma das primeiras ideias-força que escutávamos, todos nós que ao final dos anos 60 nos juntamosà militância revolucionária. “Ser como o Che” resumia, em uma frase breve e contundente, todo um plano de vida, uma completa declaração de intenções na qual a moral e a ética davam forma à ação individual e coletiva. Era, por sua vez, o objetivo e o caminho, a união entre os meios e os fins. Simbolizava a renúncia aos bens materiais e a entrega de corpo e alma para uma causa maiordo que as forças de cada um, para dar forma aos desejos coletivos de um mundo novo e melhor. Nesse modo de ser não se pensava em obter vantagens pes- soais, nem recompensas materiais, nem benefícios para a família. Era impensável priorizar as comodidades ao invés das necessida- des da luta. O Che nos ensinou a importância da renúncia. Em primeiro lugar, a renúncia do poder conquistado na revolução. Que se entenda bem, renúncia ao poder para si mesmo, porque era o povo que devia ter acesso ao poder e a todos os benefícios que podiam se derivar disso. Mas não aspirava, nem de longe, à conquista, da menor parcela que fosse, de poder em benefício pessoal. Acredito que os ensinamentos éticos da frase “ser como o Che” foram a potência que nutriu uma geração de homens e mu- lheres que deram suas vidas pela revolução. Transcendia, em muito, uma linha política concreta, para absorver a ação coletiva em cada hora e a cada minuto da vida. Quase meio século depois, sinto que a vida de Hugo Blanco Galdos foi forjada por esses mesmos princípios éticos, modelada por dentro por essa tensão que impulsiona a ir mais longe, sempre mais além; não por ambição pessoal, mas para romper com o que existe e criar algo novo. A vida é criação, ou não é. De ponta a ponta, a vida de Hugo é criativa. Na sua juventude, a luta pela reforma agrária o levou a criar a primeira guerrilha sindical do Peru, e provavelmente da América Latina. Aos 82 anos, ele continua criando através do jornal mensal Lucha Indígena, que reúne os mais diversos impulsos dos de baixo, de resistência e de criação de mundos outros. Nesse longo percurso, em que chegou a ocupar a cadeira de senador, mas nunca se desprendeu das sandálias de camponês indígena, foi capaz de descobrir novos mundos, de recriá-los ao nomeá-los e defendê-los. Hugo nasceu para a militância desde a sua realidade de camponês para abraçar a causa do proletariado revolucionário e do marxismo. Com os anos, e com uma surpreendente capacidade de aprendizagem, compreendeu a importância do feminismo e do zapatismo, e já nos últimos anos se transformou em defensor da natureza, da vida. Há vidas tão belas, tão intensas e radiantes que fica difícil escrever sobre elas sem cometer sacrilégio, porque se corre o risco de empobrecê-las com palavras. Há seres que sustentam essas vidas com alegria e simplicidade, como se não fossem responsáveis pela maravilha que criaram simplesmente vivendo. É pouco e sobretudo insuficiente o que se pode dizer de Hugo. Acredito que o segredo de sua coerência pessoal e política está em suas sandálias, em seus pés descalços que começaram a descamar desde menino na serra cusquenha e nunca deixaram de ser o que são – pés de índio camponês – ainda que tenham se assentado sobre delicados tapetes ou sobre duro chão de pedra. Só nos resta agradecer à vida por ter conhecido Hugo e por compartilhar alguns dos muitos passos de sua longa caminhada. Tomara que sejamos capazes de seguir seu exemplo de vida, com a mesma naturalidade com a que continuam caminhando seus pés índios sobre as mais diversas terras do mundo.

  • : 17/11/2022
  • : GALDOS, Hugo Blanco
  • : 1
  • : 978-6-58-634229-1
  • : 487
  • Peso:350 g
  • Altura:15 cm
  • Largura:15 cm